quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Cadeias: lembranças de uma estética marxiana...

“A crítica tirou as flores das cadeias não para que se vivesse nelas sem nenhuma ilusão, mas para que se pudesse sair e apanhar a flor viva.” Marx

Quando Marx escreveu esta frase em Introdução a crítica da filosofia do direito de Hegel, ele se referia à religião como a criadora de um mundo irreal e que deveria ser criticado para que se pudesse transformar o mundo real. Sua intenção era a de se pensar o mundo e buscar seu sentido na materialidade. Pois bem, o mundo mudou, a ciência se transformou na forma de conhecimento hegemônico, porém, novas cadeias ilusórias foram criadas e em conseqüência do mundo capitalista-moderno, se multiplicaram as cadeias materiais. Ambas produzem e refletem a nebulosidade que paira sobre o conhecimento compartilhado pela maioria das pessoas. O poder democrático dado a elas cresce na mesma proporção em que se criam mecanismos de formatação do pensamento. O processo de acumulação do capital se mostra cada vez mais excludente, de acordo com os interesses dos seus detentores, e os meios de comunicação, instrumentos da grande burguesia, tomam agora a função de entorpecer a população, em todas as classes, pois deveras ser demasiado iludido para empenhar-se nesta missão suicida que é a lógica do Capital. Quando a população percebe as desgraças realizadas na vida cotidiana, suas reflexões sobre os fatos tomam a irresponsabilidade perpetrada nos meios de comunicação. Então, suas ações recalcam, dentre os menos poderosos que ele mesmo, as possibilidades de se realizar enquanto ser humano. Sim, novas cadeias foram criadas, cadeias estas em se depositam pessoas destruídas enquanto seres humanos, ao longo de décadas quando não séculos, fruto das cadeias entorpecedoras que utilizam os símbolos para disseminar seu discurso torpe. Os meninos e meninas de rua são talvez a base mais baixa desta pirâmide de exclusão social. A eles estão destinadas as cadeias, sejam as cadeias em que se enclausuram os proprietários, sejam as cadeias em que querem lhe enclausurar para que os proprietários possam sair das suas. Todos pisoteiam a flor viva que há fora das cadeias sem ao menos se darem conta do que fazem. Como é contraditório um mundo que se embasa no visual, na aparência, se contentar com as cores opacas que colorem suas vidas. Realizar um trabalho junto aos meninos e meninas de rua é possibilitar que uma outra forma de ver o mundo venha a tona, é talvez fazer a crítica do dogma imediatista e começar a serrar algumas grades das cadeias.

Daniel Medeiros

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