terça-feira, 20 de novembro de 2007

Audiência pública termina sem respostas

Audiência pública termina sem respostas
Cinco horas de discussão não foram o suficiente para esclarecer qual será o destino do Rio Tibagi.

Indignação, faixas, protestos, falta de dados consistentes e informações precisas.
Assim se resume a última audiência pública realizada na Câmara de vereadores de Londrina, no mês de outubro. Organizada para discutir o aproveitamento energético do Paraná e a construção da Usina Mauá, a audiência foi presidida pelo deputado estadual, Tadeu Veneri, filiado ao PT. Entre os presentes estavam os deputados Luís Eduardo Cheida e Barbosa Neto, o coordenador institucional da ONG Liga Ambiental, Tom Grando, o diretor de Geração e Trasnmissão de Energia e Telecomunicações da Copel, Raul Munhoz, o representante do Ministério Público João Akira, o representante da aldeia Mococa Osias Sampaio e a professora do curso de Ciências Biológicas da UEL, Sirlei Benneman. A audiência iniciou-se com os pronunciamentos dos participantes e depois foi sucedida por um debate, que apesar das discussões acaloradas e das múltiplas expressões da platéia acabou sem qualquer decisão acertada.

Durante a audiência, o promotor João Akira questionou a licença prévia concedida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para a realização do empreendimento e o não comparecimento do instituto na audiência. “Para um empreendimento que já está pretendendo iniciar a obra, não era mais para nós termos dúvidas com relação à alteração de modos de vida e alteração de meio ambiente”, disse Akira. Também se manifestou o representante da Copel, Raul Munhoz, que ao utilizar as expressões “Mãe natureza” e “Dias melhores” foi vaiado. O diretor irritou – se com a afirmação de Osias Sampaio, que representava a aldeia Mococa, de que a Copel não teria ética.

Outro momento polêmico foi quando Tom Grando, durante o debate, sugeriu ao deputado Veneri a inauguração de uma “CPI dos Licenciamentos no Estado do Paraná”. Também, causou grande alvoroço entre os presentes na audiência, o protesto dos estudantes de biologia da UEL. Eles serviram aos representantes da Copel, Eletrosul e Consórcio Cruzeiro do Sul, também presentes na audiência pública, amostra de água do Rio Tibagi misturada com chumbo, enquanto os alunos presentes na platéia gritavam “Toma água!”.

Tadeu Veneri avalia que a realização de audiências públicas é a forma correta de se discutir a possível construção da usina Mauá. “Estamos num processo que deveria ter sido feito, no meu entendimento, de uma forma diferenciada há três, quatro anos atrás.”, lamenta o deputado pela iniciativa tardia. Ele ainda comentou sobre a necessidade da população rever a forma como consome a energia que recebe afim de que se evite desperdícios.

Já, o coordenador institucional da Liga Ambiental, Tom Grando, espera que a partir das audiências haja uma sensibilização da classe política diante do caso da usina Mauá. “O que nós esperamos aqui é que uma mobilização política venha por o trem nos trilhos. Porque a justiça não conseguiu fazer isso até agora e a argumentação técnica também não. Esperamos que a mobilização popular venha sensibilizar a classe política que tem se mostrado insensível e burra diante o processo desse licenciamento”, disse Grando.

O coordenador alerta para os impactos que serão causados pela Usina Mauá, que implicarão não somente na destruição da biodiversidade do Rio Tibagi como em impactos antropológicos e na contaminação da água consumida por aqueles que se abastecem do rio. “Em Londrina, pelo menos um milhão de habitantes recebem água do Rio Tibagi. Se nós tivéssemos Mauá implantada, nós teríamos a estagnação dessa água, ou seja, ela vai ficar parada e sem oxigênio. Não só potencializando a poluição que já existe nesse rio como atingindo minas de carvão desativadas, onde nós teríamos tanto a produção de ácido sulfúrico quanto a liberação de metais pesados na água” , explica Tom Grando.

A audiência que se iniciou ás 14 horas terminou ás 19 horas, e foi finalizada com a advertência de Tadeu Veneri para a necessidade de respostas na próxima audiência, pois, segundo as palavras do próprio deputado, “não podemos ficar nos visitando”. De acordo com os participantes, cogita-se a realização de uma nova audiência na cidade de Ortigueira.


Pare, pense e reflita
O advogado e coordenador da ONG Liga Ambiental, Rafael Filippin, comenta sobre a questão energética.

- De acordo com Filippin, no Brasil são desperdiçados todos os dias sete mil megawats, que correspondem a 200 usinas de Mauá. “Faz sentido você construir mais uma usina de Mauá se você desperdiça duzentas?”, questiona o advogado.

- O coordenador da Liga Ambiental comenta um dado divulgado por Célio Bermann, doutor em Planejamentos de Sistemas Energéticos e pesquisador da USP. “Se todas as usinas antigas fossem repotenciadas o Brasil colocaria mais uma Itaipú funcionando”, cita Filippin.

- O advogado refuta a afirmação de o Brasil estaria à beira de uma “apagão”. Ele explica que o cidadão comum paga 300 reais por megawatt- hora , enquanto, as indústrias sequer pagam duzentos reais por megawatt – hora mesmo consumindo mais que a população. “Se nós temos energia barata para dar para indústria produzir o que bem entender, é óbvio que tem energia sobrando. Porque para a lei da oferta e da procura, se você tem muita oferta abaixa – se o preço”, conclui Rafael Filppin.

Soraia V. B.

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