domingo, 21 de março de 2010

O Canadá, o Brasil e a Vale Inco

por Admin
O único jeito de trabalhadores canadenses e brasileiros lutarem contra empresas brasileiras ou canadenses, é construir uma solidariedade de classe



Sean Purdy

“A Vale pode ir para o inferno. Estamos cansados de capitalistas estrangeiros que vêm aqui destruir o estilo de vida canadense”.

Wayne Fraser, Representante do Sindicato de Mineiros, em greve há oito meses na ValeInco, Canadá (Estado de São Paulo, 16 de março de 2010)

Como canadense que mora no Brasil há 10 anos, fiquei impressionado quando li a reportagem que traz a frase acima. Trouxe-me lembranças das relações entre dois países relativamente desconhecidos entre si. E de algum dos episódios que os envolvem: a proibição da carne brasileira pelo Canadá em 2001; a acirrada disputa comercial entre Embraer e Bombardier na mesma década; e até a longa atuação da multinacional canadense Light em São Paulo e no Rio de Janeiro no ramo de transporte urbano e energia elétrica nas primeiras décadas do século XX e de sua herdeira, a Brascan, que é atualmente dona de numerosas empresas no Brasil, inclusive alguns dos mais elegantes shoppings nas grandes capitais.



Mas um canadense chamando uma empresa brasileira de imperialista? Como pode?



A feroz disputa entre a enorme multinacional Vale, que comprou a Inço há quatro anos, e os 3,5 mil trabalhadores organizados pelo United SteelWorkers (USW) nas minas de níquel em duas províncias canadenses gira em torno da tentativa da empresa terceirizar 400 mineiros e reduzir o fundo de pensão dos trabalhadores. Na semana passada, a empresa sinalizou que vai contratar centenas de temporários dentro de duas semanas para furar a greve. Em resposta, o comando da greve do USW, além de avisar a Vale de que fura greves provavelmente vão ser enfrentados inclusive fisicamente, convocou um encontro internacional no dia 22/03 de sindicatos de todos os países onde a Vale opera para organizar ações internacionais. Do Brasil, CUT e Conlutas mandarão representantes.



A greve reflete três realidades marcantes da atual economia mundial: 1) a tentativa de empresas multinacionais e nacionais de aumentar lucros através de terceirização de mão-de-obra e reduções nas pensões, entre outros métodos; 2) o crescente papel de capitalismo brasileiro multinacional; 3) as boas possibilidades de construir uma solidariedade internacional entre trabalhadores.



O trecho da matéria acima foi retirado do site do Brasil de Fato.

O que isso tem a ver com Londrina?



Do Global para o Local

Como reflexão, vou ater apenas a primeira realidade: a tentativa de empresas multinacionais e nacionais de aumentar lucros através de terceirização de mão-de-obra e reduções nas pensões, entre outros métodos.

Londrina tem um grande número de terceirização da mão-de-obra, todavia não são apenas empresas privadas, mas também serviços públicos onde os servidores deveriam ser contratados através de concurso público.

A exemplo disso encontra-se a terceirização na área de Saneamento Básico, Merenda Escolar, Plano Diretor de Londrina, Saúde, entre outros.

O governo tem um gasto maior utilizando contratações através de empresas de terceirização. Em Curitiba o comprometimento da receita com terceirizadas é de 29,7%; em Maringá é de apenas 2%; já em Londrina o comprometimento é de 53%

Esse tipo de contratação não dá garantias ao trabalhador, que é reprimido a todo momento, correndo o risco de perder seu emprego a qualquer ocasião. Diferente do servidor concursado que tem a garantia da sindicalização, greve e todos os benefícios que lhes são por direito.

É necessário que a classe trabalhadora, não só de Londrina, do Brasil, mas de toda parte do mundo, se una para que esse tipo de exploração acabe. Exigindo seus direitos, conquistados através de muita luta, durante muitos anos.



Leia mais no site http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/o-canada-o-brasil-e-a-vale-inco

Ana Soranso

sexta-feira, 5 de março de 2010

A ÍNTIMA FOME DE GREVE DE ROSE

A prisão injusta e a impossibilidade de produzir seu alimento foram as principais motivações da militante
Eduardo Sales de Lima
enviado a Avaí

A greve começou na terça-feira, 2 de fevereiro, à noite, e perdurou até o final de semana, entre os dias 7 e 8. Poucos sabiam: somente uma ou duas pessoas que a visitavam com mais frequência. Na sexta-feita, 6, a militante foi levada da Cadeia Feminina de Avaí a um hospital, em Bauru (SP), quase desfalecida.
No hospital, foi alimentada por meio de soro. O médico que a atendeu revelou que, por causa da prisão, ela estava com problemas psicossomáticos. Mal sabia ele sobre a decisão política, íntima, da militante, que já havia começado uma greve de fome dias antes.
Formada em Pedagogia, Rosimeire Pan D'Arco de Almeida Serpa, apontada pela polícia como uma das principais líderes da ocupação da fazenda grilada pela Cutrale, ficou todos os 16 dias detida numa cela separada das outras presas. Um cotidiano de leituras não a fez fugir da realidade, pelo contrário. Foi justamente enquanto lia o Relatório de Direitos Humanos de 2009, elaborado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, mais especificamente um artigo que homenageava um menino atropelado e morto por um trator na cidade de Maceió, num lixão, que Rosimeire teve o seu primeiro acesso de falta de apetite.


Decisão

À sua consciência, vinha a imagem da criança morta no lixão e, ao seu lado, quase todos os dias, duas crianças da cidade de Avaí pediam um marmitex aos carcereiros na porta da prisão. “Elas falavam assim: 'Carcelheiro, tem marmita?', relatou Rose, como é conhecida, à reportagem do Brasil de Fato, que pôde conversar com a militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) enquanto ela permanecia detida. As crianças famintas de Avaí lhe faziam crescer a falta de apetite.
No entanto, ela começou compreender que a falta de apetite não era simplesmente fisiológica. Havia um forte componente político nesse contexto. O pedido de prisão preventiva para todos os presos (que estavam até então, na prisão temporária) a motivou, preponderantemente, para assumir, no seu íntimo, uma greve de fome. Pesou, preponderantemente, o fato de estar presa e não poder estar produzindo seu próprio alimento, junto de seus três filhos e do marido, Miguel Serpa, também detido.
Somada à experiência de não comer nada durante os dias em que esteve detida, Rose conta que alguns carcereiros fizeram questão de provocá-la, referindo-se pejorativamente a suas atitudes como militante social e socialista. Isso mexeu bastante com a militante.

Misturada


Durante todo o tempo de reclusão, Rose testemunhou o atendimento médico às outras presas da cadeia numa sala que dá de frente para sua cela. Desorganizada, à semelhança de um almoxarifado bagunçado, duas vezes por semana um médico atendia as detentas. “A maior parte pede remédios para dormir”, lembrou Rose.
A relação da vereadora de Iaras com as presas, nos primeiros dias, não era das melhores. Elas a questionavam o porquê dela estar sozinha numa cela. Rose chegou e escrever uma carta para o diretor da cadeia pedindo que a transferisse para junto das outras 93 mulheres. A cadeia tem lotação máxima de 40 presas.
Com o passar dos dias, ao conhecerem o motivo da prisão de Rose, as presas mostraram apoio e solidariedade. Uma mulher do Piauí até criticou o latifúndio, e “disse que admira os sem-terra de seu estado, porque são valentes”, recorda.
Pelo menos por uma hora por dia era possível dialogar com as outras detidas, tanto que perceberam o abatimento da companheira. Mas nenhuma delas imaginava que a vereadora tinha optado em fazer uma greve de fome.
Em meio a todo turbilhão político pelo qual está passando, Rose lembrou que, mesmo dentro da cadeia, é necessário haver justiça social. Ela contou que as presas montam tomadas e ganham R$ 5 por mês. Cada mês trabalhado significa um dia a menos no cumprimento da pena. Ela não disse, mas é provável que tal exploração também tenha aumentado sua falta de apetite.


Fonte: http://www.brasildefato.com.br/