Quando Cristiano soube da existência de um filho seu, o menino já não tinha o jeito dos bichos, era um filhote de gente. Andava, falava e fazia o que qualquer criança aos cinco anos é capaz de fazer. Tinha os olhos e os cabelos do pai e escolhia as palavras como a mãe. “Por favor, um copo d’água”, pediu para a senhora que logo aprenderia a chamar de Vó e às vezes também de Zefa, como o seu pai chamava.
Logo que o guri deixou de ser um individuo para se tornar filho, Cristiano começou a depositar lhe características, com o desejo de dar à criatura a sua imagem e semelhança... “Pra que time você torce?”... “Não sei!”... “Que bom!”. Poderia assim Cristiano forma-lhe da arte da bola, ciência que dominava como poucos, e que, por um acaso, não herdou do pai, mas de outros homens que admirava.
Você já deve deduzir que lhe ensinaria a amar e torcer pelo time que trazia no coração. Não. Quer dizer... Sim, mas também ensinou o guri a gostar do time da pequena cidade. “Qual deles?” É difícil a pergunta. Cristiano acompanhava todos os times da pequena cidade, pela paixão ao futebol e também pelo oportuno de ter jogado com muitos daqueles que, hoje, faziam das peladas o ganha pão. O União era um time que Cristiano havia torcido durante muito tempo. “Glorioso”, como era conhecido, não trouxe muitas alegrias para o jovem pai. “Acho melhor não...” Então não.
Compraram pipocas. O Pai uma latinha. O pessoal do lado passava fumando um verdinho, mas o menino descuidava os olhos nos balões. “Comprei arquibancada, cê acha que eu vou na cativa, vou na arquibancada.” Os dois erravam gente a dentro (não tanta gente). Menos que no 1 X 0 que o União meteu no Internacional em 2009. Fazer o que!? Não. Não era contra o União. Tratava-se do Luverdense, atual campeão. “Vamu lá!”.“Não”. Cristiano olhou diferente o amontoado de gente e pensou. E é verdade! Eram sim um mucado bom de gente, numa mistureira danada. “Pai! Perto do Gol!” O pai ficou tão menino quanto o menino, ao ouvir. Foram para perto do gol, o que era uma linha privilegiada por dois motivos: podia assistir a um gol de camarote e estava ao lado dela, a maravilhosa torcida do Tigrão que lotava aquele tanto, pintando com as cores da bandeira o Estádio.
O menino comia a pipoca açucarada e percebia que já havia visto aquilo. O pai procurava se menino no menino, e via um piá sonhador à beira do campo. E via o Neguinho chegando da guarda-mirim no campinho do Cabelo. Via o Ricardo, menino muito bonito, mas pobre de dá dó - riamos da sua geladeira que só tinha uma cebola. Pensou no Cabelo, que podia ter ganhado grana com a coisa. Mas, o Cabelo já levava uma vida na maior, e só pegava gatinha. O que ele quer? Não sei.
Os olhos do guri se arregalaram surpresos com a entrada dos homens em campo. Ovacionado pela musica ele começou a erguer um sorriso compassado, como se soubesse que esta sendo visto. Não, como se soubesse que este sendo descrito. Não! Como se soubesse que esta sendo lido por você. E sorrisse. E o menino encheu seus olhos com os uniformes que lembravam mais operários a soldados. Projetou seu corpo para frente, lento e preciso como um comercial de bombom. Sei lá! O time estava lá e ele estava de-cara com eles. “Vamu tigrão!” Gritou o pai.
Via de perto alguém que lembrava alguém. Mas da onde? O que tinha naquelas pessoas em campo, que lhe era tão familiar. Sim, parece até estranho pensar o que aquela mente de menino pensava: o novo. “Mas, da onde eu vi?”. Aquela gente toda parecia com tanta gente que o guri pensou que podia ser ele a entrar daquele jeito num lugar. E quem sabe, ser ovacionado. Sim! Eu queria ser um daqueles que ali estava e surpreendendo o menino.
A bola rolou, o meia voltou pouco para um lançamento longo. Botando pra correr o Queijim, que.... puts. Quase! O menino viu o pai e apertou as mãos e igual vez. Era nem 5 minutos do primeiro tempo e quase. Nossa!!! “Vou contar na escola!” Quem não contaria? “Os times rezam os hinos”. Antes de entrar cantaram, e logo que acabaram começou a descer do céu uma geada, e a torcida logo em seguida desceu também uma bandeira que cobria toda a galera. Nossa, o menino coberto pela imagem do distintivo do time, parecia um sonho. E gritava junto com toda aquela gente e o seu pai que não sei continha no corpo.
Tinha tudo pra ser um jogão. Os caras vinham jogando igual gente grande. Pena que os times não estão completos. “E a gente tem que decidir, por que depois vai ficar F...”.
Robson Vilalba
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