sábado, 24 de outubro de 2009

Carta Aberta do Movimento 27 de Março

Trabalhadores e fazedores culturais da cidade de São Paulo,


Nós, do Movimento 27 de março, que ocupamos o prédio da Funarte no dia do teatro deste ano para barrar a privatização da cultura, lutando contra a renúncia fiscal mantida na “nova lei Rouanet”, então o Profic, queremos conversar com vocês.
Sabemos que é difícil, num mundo tão individualizado e embrutecido, a gente parar, conversar, falar e ouvir nossos companheiros, pessoas que muitas vezes têm opiniões diferentes da nossa e, juntos, atentar mais para os pontos que nos unem do que para aqueles que nos separam.
Nosso Movimento é “filho” de outros tantos movimentos de artistas, sobretudo dos trabalhadores de teatro, que se reuniram no Arte contra a barbárie, no Redemoinho e na Roda do Fomento.
Queremos provocar o nascimento de novas idéias para criar situações novas.
Para nós a arte tem uma função fundamental na sociedade e tem relação com todos os campos da vida social. Por isso lutamos contra toda forma de privatização da arte e da cultura.
O mundo não é uma mercadoria!
Se hoje parece “natural” que produções com características estéticas voltadas apenas para garantir a audiência dos anúncios comerciais do intervalo, sejam consideradas arte, para nós o dinheiro que financia tais produções também interfere nas suas “liberdades” artísticas. A privatização da arte e da cultura, através do financiamento das empresas privadas ou de leis de renúncia fiscal que seguem a mesma lógica do mercado, deve ser por nós combatidos em todas as escalas.
A Lei Rouanet, principal política pública para a cultura do Brasil, foi criada em 1992 e baseia-se na renúncia fiscal como forma de incentivo à cultura. Nesse tipo de “incentivo”, a decisão do destino do investimento em cultura é feita pela empresa privada. É ela quem direciona seu imposto para o projeto cultural que lhe parecer melhor e, na maioria dos casos, significa mais rentável, ou o que dá mais “visibilidade”. A lei Rouanet, bem como todas as outras leis que promovem a cultura através da isenção fiscal, também seguem a mesma lógica de entender arte como mercadoria.
O Movimento 27 de Março vê no Manifesto do Movimento Arte contra a Barbárie pertinência e atualidade:

“É inaceitável a mercantilização imposta à Cultura no país, na qual predomina uma política de eventos.”

“Sua condição atual reflete uma situação social e política grave!”
“A produção, circulação e fruição dos bens culturais é um direito constitucional, que não tem sido respeitado.”
“A atual política oficial, que transfere a responsabilidade do fomento à produção cultural para a iniciativa privada, mascara a omissão que transforma os órgãos públicos em meros intermediários de negócios.”
Queremos uma política pública para a cultura que contemple vários programas com recursos orçamentários próprios e regras democráticas, estabelecidas em lei como política de Estado e não ações de governo. As parcerias propostas entre o público (Estado) e o privado (PPP - Mercado), bem como a Economia Criativa e a sustentabilidade dos projetos nos impõe uma lógica de mercado que não podemos atender. Não produzimos lucro (mais valia), então, de onde vem esse dinheiro para sermos sustentáveis?
Não haverá transformação cultural enquanto as ações humanas forem organizadas pela lógica da eficácia mercantil e a cidadania for construída na perspectiva do consumo.
Uma comparação. A função da saúde, da educação e das políticas públicas nestas áreas não é fabricar dinheiro nem dar emprego para médicos, enfermeiros, professores. Da mesma forma, a arte, a cultura, o teatro e respectivas políticas públicas não podem ser encarados como fábricas de valor e empregos. Critérios como lucro, auto-sustentabilida de, produto, serviços, etc., etc., são, no mínimo, deslocados ou secundários para discutir uma política cultural.
A II Conferência Municipal de Cultura foi chamada de uma forma burocrática, o famoso “de cima pra baixo”. Reconhecemos esse espaço como um espaço de discussão da cultura, conquista de diversos movimentos culturais da cidade, como forma de relação social, mas combatemos duramente a forma como foi construída: sem debate político, sem construção horizontal e sem envolvimento prévio dos coletivos e movimentos organizados. E, por fim, de difícil acesso em todos os sentidos!
Acreditamos que a reabertura do Conselho Municipal de Cultura deva trazer mais atualizada a agenda de lutas dos movimentos.
Por isso, escrevemos essa carta, para convidá-los a aprofundar as discussões sobre cultura e arte em um encontro com o M27M. Não queremos nos acomodar e conviver de forma pacífica com o atraso que a não ação promove.
Queremos fazer esse chamado para a construção coletiva de uma Carta de Princípios de um possível “novo” movimento a partir dos três pontos a seguir:
- contra a privatização da cultura! Mais verba pública direto para a cultura!

- apoio ao PEC 150 que destina para a cultura o mínimo de 2% do orçamento da União, 1,5% dos Estados e 1% dos Municípios.
- políticas públicas para cultura como direito e não privilégio. Cultura para todos!

Não idealizamos a perfeição dos movimentos sociais, queremos é a imperfeição humana exposta nas discussões de companheiros que se dispõem à ação conjunta e ainda acreditam que a luta transforma a vida.



Saudações fraternas, Movimento 27 de Março.



Próxima reunião:
DIA 27 de outubro (Terça-feira) às 20h no Teatro Coletivo
Local: Rua: Da Consolação, 1.623.
Informações: (11) 3255-5922 / 8121-0870.
Pauta: Políticas públicas para a cultura e carta de princípios.


Acessem:
Blog da Roda do Fomento:
http://rodadofoment o.blogspot. com/
Blog do Movimento 27 de março:
http://movimento27d emarco.blogspot. com
 
 
Ana Soranso

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quem se importa?

Ele só queria encontrá-la... custasse o que for. Mesmo que para isso ele tivesse que andar 4000 km e nadar 10 horas contra uma correnteza de águas congelantes. Ele não conseguiu, não se animem, o final é triste, já digo logo.


O mais triste talvez não seja isso. Não que isso não tenha importância. É óbvio que tem. E como tem! Mas o difícil é não poder ser ajudado.

Existem voluntários que ajudam, mas também ajudam na clandestinidade. Os “melhores do mundo” não deixam. Os donos do mundo não deixam seus filhos ajudar. O filho nosso que ajuda o outro está contra nós. Contra nós?! Sim. Os donos do mundo criaram seus inimigos, para que continuem sendo seus inimigos, pois para os donos do mundo é bom ter inimigos.

Pode parecer estranho, mas é assim que é.

Também tem a parte de sermos inimigos de nós mesmos, mas isso fica para eles e não para nós. Mas e se eles quiserem ajudá-los. O mundo é livre! Não é não. Eles têm donos (assim como nós), e seus donos não os deixam ajudar.

Ele quis ajudá-lo, no entanto não conseguiu. O outro, o “inimigo”, morreu. É triste, eu sei. O filho do dono do mundo ficou triste, muito triste, mas foi só.

E é como os Donos do Mundo que querem que sejamos!

Ana Soranso

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Num momento em que generalidades e obviedades são ditas com ares de gravidade, de denúncia séria; em que os meios de comunicação das classes dominantes procuram reescrever \ sua própria história, assumindo ares progressistas e de atenção às mazelas que afligem as camadas mais pobres da população; num momento em que alguns aparentam preocupação com o estado de coisas, com a barbárie que o capitalismo e o imperialismo engendram no país e no mundo – e tudo isso – o fazem sem permitir que se reconheça suas causas evitáveis e como superá-las, é muito oportuno e estimulante o ensaio do camarada BB.






AS CINCO DIFICULDADES PARA ESCREVER A VERDADE



Bertolt Brecht*



Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa ter habilidade para a difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram e/ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas, não estão de todo livres da sua ação.



1- A CORAGEM DE DIZER A VERDADE



É evidente que o escritor deve dizer a verdade, não a calar nem a abafar, e nada escrever contra ela. É sua obrigação evitar rebaixar-se diante dos poderosos, não enganar os fracos, naturalmente, assim como resistir à tentação do lucro que advém de enganar os fracos. Desagradar aos que tudo possuem equivale a renunciar seja ao que for. Renunciar ao salário do seu trabalho equivale por vezes a não poder trabalhar, e recusar ser célebre entre os poderosos é muitas vezes recusar qualquer espécie de celebridade. Para isso precisa-se de coragem. As épocas de extrema opressão costumam ser também aquelas em que os grandes e nobres temas estão na ordem do dia. Em tais épocas, quando o espírito de sacrifício é exaltado ruidosamente, precisa o escritor de muita coragem para tratar de temas tão mesquinhos e tão baixos como a alimentação dos trabalhadores e a sua moradia.



Quando os camponeses são cobertos de honrarias e apontados como exemplo, é corajoso o escritor que fala da maquinaria agrícola e dos pastos baratos que aliviariam o tão exaltado trabalho dos campos. Quando todos os alto-falantes espalham aos quatro ventos que o ignorante vale mais do que o instruído, é preciso coragem para perguntar: vale mais, por quê? Quando se fala de raças nobres e de raças inferiores, é corajoso o que pergunta se a fome, a ignorância e a guerra não produzem odiosas deformidades... É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos. Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça. Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência. Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a umidade da chuva. É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza. A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira. Quando se afirma que alguém disse a verdade é porque houve outros, vários, muitos ou um só, que disseram outra coisa, mentiras ou generalidades, mas aquele disse a verdade, falou em algo de prático, concreto, impossível de negar, disse a única coisa que era preciso dizer.



Não se carece de muita coragem para deplorar em termos gerais a corrupção do mundo e para falar num tom ameaçador, nos lugares onde a coisa ainda é permitida, da desforra do Espírito. Muitos simulam a bravura como se os canhões estivessem apontados sobre eles; a verdade é que apenas servem de mira a binóculos de teatro. Os seus gritos atiram algumas vagas e generalizadas reivindicações, à face dum mundo onde as pessoas inofensivas são estimadas. Reclamam em termos gerais uma justiça para a qual nada contribuem, apelam pela liberdade de receber a sua parte dum espólio que sempre têm partilhado com eles. Para esses, a verdade tem de soar bem. Se nela só há aridez, números e fatos, se para a encontrar forem precisos estudos e muito esforço, então essa verdade não é para eles, não possui a seus olhos nada de exaltante. Da verdade, só lhes interessa o comportamento exterior que permite clamar por ela. A sua grande desgraça é não possuírem a mínima noção dela.




2- A INTELIGÊNCIA DE RECONHECER A VERDADE



Como é difícil dizer a verdade, já que por toda a parte a sufocam, dizê-la ou não parece à maioria uma simples questão de honestidade. Muitas pessoas pensam que quem diz a verdade só precisa de coragem. Esquecem a segunda dificuldade, a que consiste em descobri-la. Não se pode dizer que seja fácil encontrar a verdade.



Em primeiro lugar, já não é fácil descobrir qual verdade merece ser dita. Hoje, por exemplo, as grandes nações civilizadas vão soçobrando uma após a outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo.



Acresça-se ainda o fato de todos sabermos que a guerra interna, dispondo dos meios mais horríveis, pode transformar-se dum momento para o outro numa guerra exterior que só deixará um montão de escombros no lugar onde outrora havia o nosso continente. Esta é uma verdade que não admite dúvidas, mas é claro que existem outras verdades. Por exemplo: não é falso que as cadeiras sirvam para a gente se sentar e que a chuva caia de cima para baixo. Muitos poetas escrevem verdades deste gênero. Assemelham-se a pintores que esboçassem naturezas mortas a bordo dum navio em risco de naufragar. A primeira dificuldade de que falamos não existe para eles e, contudo, têm a consciência tranqüila. "Desgalham" o quadro num desprezo soberano pelos poderosos, mas também sem se deixarem impressionar pelos gritos das vítimas. O absurdo do seu comportamento engendra neles um "profundo" pessimismo que se vende bem; os outros é que têm motivos para se sentirem pessimistas ao verem o modo como esses mestres se vendem. Já nem sequer é fácil reconhecer que as suas verdades dizem respeito ao destino das cadeiras e ao sentido da chuva: essas verdades soam normalmente de outra maneira, como se estivessem relacionadas com coisas essenciais, pois o trabalho do artista consiste justamente em dar um ar de importância aos temas de que trata.



Só olhando os quadros de muito perto é que podemos discernir a simplicidade do que dizem: "Uma cadeira é uma cadeira" e "Ninguém pode impedir a chuva de cair de cima para baixo". As pessoas não encontram ali a verdade que vale a pena ser dita.



Alguns se consagram verdadeiramente às tarefas mais urgentes, sem medo aos poderosos ou à pobreza e, no entanto, não conseguem encontrar a verdade. Faltam-lhe conhecimentos. As velhas superstições não os largam, assim como os preconceitos ilustres que o passado freqüentemente revestiu de uma forma bela. Acham o mundo complicado em demasia, não conhecem os dados nem distinguem as relações. A honestidade não basta; são precisos conhecimentos que se podem adquirir e métodos que se podem aprender. Todos os que escrevem sobre as complicações desta época e sobre as transformações que nela ocorrem necessitam conhecer a dialética materialista, a economia, a história. Estes conhecimentos podem adquirir-se nos livros e através da aprendizagem prática, por mínima que seja, e a vontade necessária. Muitas verdades podem ser encontradas com a ajuda de meios bastante mais simples, através de fragmentos de verdades ou dos dados que conduzem à sua descoberta. Quando se quer procurar, é conveniente ter-se um método, mas também se pode encontrar sem método e até sem procura. Contudo, através dos diversos modos como o acaso se exprime, não se pode esperar a representação da verdade que permite aos homens saber como devem agir. As pessoas que só se empenham em anotar os fatos insignificantes são incapazes de tornar manejáveis as coisas deste mundo. O objetivo da verdade é uno e indivisível. As pessoas que apenas são capazes de dizer generalidades sobre a verdade não estão à altura dessa obrigação.



Se alguém está pronto a dizer a verdade e é capaz de a reconhecer, ainda tem de vencer três dificuldades.




3-A ARTE DE TORNAR A VERDADE MANEJÁVEL COMO UMA ARMA



O que torna imperiosa a necessidade de dizer a verdade são as conseqüências que isso implica no que diz respeito à conduta prática. Como exemplo de verdade inconseqüente ou de que se poderão tirar conseqüências falsas, tomemos o conceito largamente difundido, segundo o qual em certos países reina um estado de coisas nefasto, resultante da barbárie. Para esta concepção, o fascismo é uma vaga de barbárie que alagou certos países com a violência de um fenômeno natural.



Os que assim pensam, entendem o fascismo como um novo movimento, uma terceira força justaposta ao capitalismo e ao socialismo (e que os domina). Para quem partilha esta opinião, não só o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam podido, se não fosse o fascismo, continuar a existir etc. Naturalmente que se trata de uma afirmação fascista, de uma capitulação perante o fascismo. O fascismo é uma fase histórica na qual o capitalismo entrou; por conseqüência, algo de novo e ao mesmo tempo velho. Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma fascista, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto a forma mais nua, cínica, opressora e mentirosa do capitalismo.



Como se poderá dizer a verdade sobre o fascismo que se recusa, se quem diz essa verdade se abstém de falar contra o capitalismo que engendra o fascismo? Qual será o alcance prático dessa verdade?



Aqueles que estão contra o fascismo sem estar contra o capitalismo, que choramingam sobre a barbárie causada pela barbárie, assemelham-se a pessoas que querem receber a sua fatia de assado de vitela, mas não querem que se mate a vitela. Querem comer vitela, mas não querem ver sangue. Para ficarem contentes, basta que o açougueiro lave as mãos antes de servir a carne. Não são contra relações de propriedade que produzem barbárie, mas são contra a barbárie.



As recriminações contra as medidas bárbaras podem ter uma eficácia episódica, enquanto os auditores acreditarem que semelhantes medidas não são possíveis na sociedade onde vivem. Certos países gozam do raro privilégio de manter relações de propriedade capitalistas por processos aparentemente menos violentos. A democracia ainda lhes presta os serviços que, noutras partes do mundo, só podem ser prestados mediante o recurso à violência, quer dizer, aí a democracia chega para garantir a propriedade privada dos meios de produção. O monopólio das fábricas, das minas, dos latifúndios gera, em toda a parte, condições bárbaras; digamos que em alguns lugares a democracia torna essas condições menos visíveis. A barbárie torna-se visível logo que o monopólio já só pode encontrar proteção na violência nua.



Certas nações que conseguem preservar os monopólios bárbaros sem renunciar às garantias formais do direito, nem a comodidades como a arte, a filosofia, a literatura etc. acolhem carinhosamente os hóspedes cujos discursos procuram desculpar o seu país natal de ter renunciado a semelhantes confortos: tudo isso lhes será útil nas guerras vindouras. É licito dizer-se que reconheceram a verdade, aqueles que reclamam a torto e a direito uma luta sem quartel contra a Alemanha, apresentada como verdadeira Pátria do Mal da nossa época, Sucursal do Inferno, Caverna do Anticristo? Desses, não será exagerado pensar que não passam de impotentes e nefastos imbecis, já que a conclusão do seu blá-blá-blá aponta para a destruição desse país inteiro e de todos os seus habitantes (o gás asfixiante, quando mata, não escolhe os culpados).



O homem frívolo, que não conhece a verdade, exprime-se através de generalidades, em termos nobres e imprecisos. Encanta-o perorar sobre "os" Alemães ou lançar-se em grandes tiradas sobre "o" Mal, mas a verdade é que nós, aqueles a quem o homem frívolo fala, ficamos embaraçados, sem saber o que fazer de semelhantes ditames. Afinal de contas, o nosso homem decidiu deixar de ser alemão? E lá por ele ser bom, o inferno vai desaparecer? São desta espécie as grandes frases sobre a barbárie. Para os seus autores, a barbárie vem da barbárie e desaparece graças à educação, moral, que vem da educação. Que miséria a destas generalidades, que não visam qualquer aplicação prática e, no fundo, não se dirigem a ninguém.



Não nos admiremos que se digam de esquerda, "mas" democratas, os que só conseguem elevar-se a tão fracas e improfícuas verdades. A "esquerda democrática" é outra destas generalidades-álibis, onde correm a acoitarem-se as pessoas inconseqüentes, isto é, os incapazes de viver até as últimas conseqüências as verdades que quer a esquerda, quer a democracia contêm. Reclamar-se, alguém, da "esquerda democrática" significa, em termos práticos, que pertence ao grupo dos ineptos para revolucionar ou conservar as coisas, ao clã dos generalistas da verdade.



Não é a mim, fugido da Alemanha com a roupa que tinha no corpo, que me vão apresentar o fascismo como uma espécie de força motriz natural impossível de dominar. A obscuridade dessas descrições esconde as verdadeiras forças que produzem as catástrofes. Um pouco de luz, e logo se vê que são homens a causa das catástrofes. Pois é, amigos: vivemos num tempo em que o homem é o destino do homem.



O fascismo não é uma calamidade natural, que se possa compreender a partir da "natureza" humana. Mas mesmo confrontados com catástrofes naturais, há um modo de descrevê-las digno do homem, um modo que apela para as suas qualidades combativas.



O cronista de grandes catástrofes como o fascismo e a guerra (que não são catástrofes naturais) deve elaborar uma verdade praticável, mostrar as calamidades que os que possuem os meios de produção infligem às massas imensas dos que trabalham e não os possuem.



Se se pretende dizer eficazmente a verdade sobre um mau estado de coisas, é preciso dizê-la de maneira que permita reconhecer as suas causas evitáveis. Uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido.




4- DISCERNIMENTO SUFICIENTE PARA ESCOLHER OS QUE TORNARÃO A VERDADE EFICAZ



Tirando ao escritor a preocupação pelo destino dos seus textos, as tradições seculares do comércio da coisa escrita no mercado das opiniões deram-lhe a impressão de que a sua missão terminava logo que o intermediário, cliente ou editor, se encarregava de transmitir aos outros a obra acabada. O escritor pensava: falo e ouve-me quem me quiser ouvir. Na verdade, ele falava, e quem podia pagar ouvia-o. Nem todos ouviam as suas palavras, e os que as ouviam não estavam dispostos a ouvir tudo o que se lhes dizia. Tem-se falado muito desta questão, mas mesmo assim ainda não chega o que se tem dito: limitar-me-ei aqui a acentuar que "escrever a alguém" tornou-se pura e simplesmente "escrever". Ora não se pode escrever a verdade e basta: é absolutamente necessário escrevê-la a "alguém" que possa tirar partido dela. O conhecimento da verdade é um processo comum aos que lêem e aos que escrevem. Para dizer boas coisas, é preciso ouvir bem e ouvir boas coisas. A verdade deve ser pesada por quem a diz e por quem a ouve. E para nós que escrevemos, é essencial saber a quem a dizemos e quem no-la diz.



Devemos dizer a verdade sobre um mau estado de coisas àqueles que o consideram o pior estado de coisas, e é desses que devemos aprender a verdade. Devemos não só dirigir-nos às pessoas que têm uma certa opinião, mas também aos que ainda a não têm e deviam tê-la, ditada pela sua própria situação. Os nossos auditores transformam-se continuamente! Até se pode falar com os próprios carrascos quando o prêmio dos enforcamentos deixa de ser pago pontualmente ou o perigo de estar com os assassinos se torna muito grande. Os camponeses da Baviera não costumam querer nada com revoluções, mas quando as guerras duram demais e os seus filhos, no regresso, não arranjam trabalho no campo, tem sido possível ganhá-los para a revolução.



Para quem escreve, é importante saber encontrar o tom da verdade. Um acento suave, lamentoso, de quem é incapaz de fazer mal a uma mosca, não serve. Quem, estando na miséria, ouve tais lamúrias, sente-se ainda mais miserável. Em nada o anima a cantilena dos que, não sendo seus inimigos, não são certamente seus companheiros de luta. A verdade é guerreira, não combate só a mentira, mas certos homens bem-determinados que a propagam.






5- HABILIDADE PARA DIFUNDIR A VERDADE



Muitos, orgulhosos de ter a coragem de dizer a verdade, contentes por a terem encontrado, porventura fatigados com o esforço necessário para lhe dar uma forma manejável, aguardam, impacientemente, que aqueles cujos interesses defendem a tomem em suas mãos e consideram desnecessário o uso de manhas e estratagemas para a difundir. Freqüentemente, é assim que perdem todo o fruto do seu trabalho. Em todos os tempos, foi necessário recorrer a "truques" para espalhar a verdade, quando os poderosos se empenhavam em abafá-la e ocultá-la. Confúcio falsificou um velho calendário histórico nacional, apenas lhe alterando algumas palavras. Quando o texto dizia: "o Senhor de Kun condenou à morte o filósofo Wan por ter dito frito e cozido", Confúcio substituía "condenou à morte" por "assassinou". Quando o texto dizia que o Imperado Fulano tinha sucumbido a um atentado, escrevia "foi executado". Com este processo, Confúcio abriu caminho a uma nova concepção da história.



Na nossa época, aquele que em vez de "povo", diz "população", e em lugar de “terra", fala de "latifúndio", evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha. A palavra "povo" exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a "população" de um território tem interesses diferentes e opostos. Da mesma forma, aquele que fala em "terra" e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos, favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o "paraíso". "Latifúndio" é a expressão justa: torna a trapalhice menos fácil. Nos lugares onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de "disciplina", a palavra "obediência", já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza-se, portanto, por algo de mais nobre que a obediência. Do mesmo modo, "dignidade humana" vale mais do que "honra": com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o gênero de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem "honrarias" pelos famélicos que os engordam.



Ao substituir avaliações inexatas de acontecimentos nacionais por notações exatas, o método de Confúcio ainda hoje é aplicável. Lenin, por exemplo, ameaçado pela Polícia do Czar, quis descrever a exploração e a opressão da Ilha Sakalina pela burguesia russa. Substituiu "Rússia" por "Japão" e, "Sakalina", por "Coréia". Os métodos da burguesia japonesa faziam lembrar a todos os leitores os métodos da burguesia russa em Sakalina, mas a brochura não foi proibida, porque o Japão era inimigo da Rússia. Muitas coisas que não podem ser ditas na Alemanha a propósito da Alemanha, podem sê-lo a propósito da Áustria. Há muitas maneiras de enganar um Estado vigilante.



Voltaire combateu a fé da Igreja nos milagres, escrevendo um poema libertino sobre a Donzela d’Orleans, no qual são descritos os milagres que sem dúvida foram necessários para Joana d'Arc permanecer virgem no exército, na corte e no meio de todos os frades.



Pela elegância do seu estilo e a descrição de aventuras galantes inspiradas na vida relaxada das classes dirigentes, levou estas a sacrificar uma religião que lhes fornecia os meios de levar essa vida dissoluta. Mais e melhor deu assim às suas obras a possibilidade de atingir por vias ilegais aqueles a quem eram destinadas. Os poderosos que Voltaire contava entre os seus leitores favoreciam ou toleravam a difusão dos livros proibidos, e desse modo sacrificavam a polícia que protegia os seus prazeres. E o grande Lucrécio sublinha expressamente que, para propagar o ateísmo epicurista, confiava muito na beleza dos seus versos.



Não há dúvida de que um alto nível literário pode servir de salvo-conduto à expressão de uma idéia. Contudo, muitas vezes desperta suspeitas. Então, pode ser indicado baixá-lo intencionalmente. É o que acontece, por exemplo, quando sob a forma desprezada do romance policial, se introduz à calada, em lugares discretos, a descrição dos males da sociedade. O grande Shakespeare baixou o seu nível por considerações bem mais fracas, quando tratou com uma voluntária ausência de vigor o discurso com que a mãe de Coriolano tentou travar o filho, que marchava sobre Roma: Shakespeare pretendia que Coriolano desistisse do seu projeto, não por causa de razões sólidas ou de uma emoção profunda, mas por uma certa fraqueza de caráter que o entregava aos seus velhos hábitos. Encontramos igualmente em Shakespeare um modelo de manhas na difusão da verdade: o discurso de Marco Antônio perante o corpo de César, quando repete com insistência que Brutus, assassino de César, é um homem honrado, descrevendo ao mesmo tempo o seu ato, e a descrição do ato provoca mais impressão que a do próprio autor.



Jonathan Swift propôs numa das suas obras o seguinte meio de garantir o bem-estar da Irlanda: meter em salmoura os filhos dos pobres e vendê-los como carniça no talho. Através de minuciosos cálculos, provava que se podem fazer grandes economias quando não se recua diante de nada. Swift armava-se voluntariamente em imbecil, defendendo uma maneira de pensar abominável e cuja ignomínia saltava aos olhos de todos. O leitor podia-se mostrar mais inteligente, ou pelo menos mais humano que Swift, sobretudo aquele que ainda não tinha pensado nas conseqüências decorrentes de certas concepções.



São consideradas baixas as atividades úteis aos que são mantidas no fundo da escala: a preocupação constante pela satisfação de necessidades; o desdém pelas honrarias com que procuram engodar os que defendem o país onde morrem de fome; a falta de confiança no chefe quando o chefe nos leva, a todos, à catástrofe; a falta de gosto pelo trabalho quando ele não alimenta o trabalhador; o protesto contra a obrigação de ter um comportamento de idiotas; a indiferença para com a família, quando de nada serve a gente interessar-se por ela. Os esfomeados são acusados de gulodice; os que não têm nada a defender, de covardia; os que duvidam dos seus opressores, de duvidar da sua própria força; os que querem receber a justa paga pelo seu trabalho, de preguiça, etc.



Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria, têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade. Quem procura as causas do mal, vai parar na prisão antes que a sua busca atinja o governo. Mas é sempre possível opormo-nos à conversa fiada sobre a fatalidade: pode-se mostrar, em todas as circunstâncias, que a fatalidade do homem é obra de outros homens. Até na descrição de uma paisagem se pode chegar a um resultado conforme à verdade, quando se incorporam à natureza as coisas criadas pelo homem.




RECAPITULAÇÃO



A grande verdade da nossa época (só seu conhecimento em nada nos faz avançar, mas sem ela não se pode alcançar nenhuma outra verdade importante) é que o nosso continente se afunda na barbárie porque nele se mantêm pela violência determinadas relações de propriedade dos meios de produção. De que serve escrever frases corajosas mostrando que é bárbaro o estado de coisas em que nos afundamos (o que é verdade), se a razão de termos caído nesse estado não se descortina com clareza? É nossa obrigação dizer que, se se tortura, é para manter as relações de propriedade. Claro que ao dizermos isso perdemos muitos amigos; aqueles que são contra a tortura porque julgam ser possível manter sem ela as relações de propriedade (o que é falso).



Devemos dizer a verdade sobre as condições bárbaras que reinam no nosso país a fim de tornar possível a ação que as fará desaparecer, isto é, que transformará as relações sociais de propriedade.



Devemos dizê-la aos que mais sofrem com as relações de propriedade e estão mais interessados na sua transformação, ou seja: aos operários e aos que podemos levar a aliarem-se com eles, por não serem proprietários dos meios de produção, embora associados aos lucros e benefícios da exploração de quem produz. E, é claro, devemos proceder com astúcia.



Devemos resolver em conjunto, e ao mesmo tempo, estas cinco dificuldades, já que não podemos procurar a verdade sobre condições bárbaras sem pensar nos que sofrem essas condições e estão dispostos a utilizar esse conhecimento. Além disso, temos de pensar em apresentar-lhes a verdade sob uma forma suscetível de se transformar numa arma, nas suas mãos, e simultaneamente com a astúcia suficiente para que a operação não seja descoberta, e impedida, pelo inimigo.



São estas as virtudes exigidas ao escritor empenhado em dizer a verdade.



(*) Texto de 1934. Tradução de Ernesto Sampaio. (Com pitacos, poucos, de adaptação ao português que se fala por aqui)



Publicado no Diário de Lisboa de 25/abr./1982.






segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Parte II


Sim! Foi f... Eu não quero comentar mais muita coisa, em respeito ao menino. Mas, vamos lá: Perderam. Temos que ver... (sim parece que vou me justificar quanto ao futebol e vou mesmo)... como o texto dizia... Tenhamos em vista a dificuldade do futebol Brasileiro. É claro, meu leito, refiro-me a maior parte do futebol que movimenta a maior parte das cidades desse Brasilzão e de todos os meninos como o Cristiano.




O que pensar em horas come essa? Obvio! Num palavrão. Cristiano percebeu que era uma boa ocasião para o menino descobrir o universo lingüístico dos palavrões, logo, mesmo que quisesse o contrário estava difícil resistir à arbitrariedade dos signos, também evidentes no momento. “Isso meu filho. Estão falando da mãe do atacante, ou o juiz. Aquele filho da p... cego”. “Cego pai!?”.





Bom! Vou te dar um tempo. Talvez seja uma boa hora para interromper a leitura... ir ao banheiro... tomar uma água... comer um pedaço de bolo. Aquele menino havia aprendido a xingar o arbitro e os pernas-de-pau que compunham o ataque do Tigrão, mas ainda não havia aprendido o substantivo comum, quase de tratamento, quase de amor que vem na palavra: pai. Sim é bem apelativo e dramático pensar que Cristiano ouviu da boca do filho essa soma de sentidos, que se traduziam num sorriso tão bobo, bem ali no meio da arquibancada.



Você tem toda a liberdade de interromper aqui sua leitura e ignorar um sentido que entenderei que desconheça. Nas próximas linhas desse parágrafo vou procurar fingi-los nas formas de um texto: E é normal que pare, pois, quando o menino então disse a palavra cujo sentido me escapa, todos ali pararam. A torcida, o arbitro, os jogadores, o pai o filho, eu o leitor. Não disseram nada. Nem fizeram com a cabeça que sim nem que talvez. Olhavam todos fixamente para algum lugar, procurando algum sentido, algum apoio, para traduzir o momento único em que o filho se dirige ao pai, dando a ele – dentro de uma palavra – o sentido (qual sentido?) de ser pai.



Andavam nas noites do velho Bairro do Conjunto São José II. O menino já quase caindo de sono, depois da longa jornada futebolística. Entrou para tomar um banho enquanto Cristiano foi tirar o lixo. Lá fora, “Seu filho da p...”. Zumbi, jogador do tigrão e visinho do Cristiano estava apanhando da mulher, ali mesmo no meio da calçada. Cristiano deixou o lixo sem dedurar que ali estava. Entrou rápido e só deu pra ouvir “Cê fica insistindo nessa p..., não te pagam... um monte de conta pra pagar.”.




Cristiano fechou a porta. É! O futebol nem sempre é a alegria do povo. O menino se deitou e Cristiano sentou na beira da cama para lhe desejar boa noite. E, antes de dormir, decidiu lhe ensinar ainda outra lição: “Sabe filho, acho melhor não xingar os jogadores não...”.

“Ta bom pai!”.





Robson Vilalba

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Parte I


Quando Cristiano soube da existência de um filho seu, o menino já não tinha o jeito dos bichos, era um filhote de gente. Andava, falava e fazia o que qualquer criança aos cinco anos é capaz de fazer. Tinha os olhos e os cabelos do pai e escolhia as palavras como a mãe. “Por favor, um copo d’água”, pediu para a senhora que logo aprenderia a chamar de Vó e às vezes também de Zefa, como o seu pai chamava.


Logo que o guri deixou de ser um individuo para se tornar filho, Cristiano começou a depositar lhe características, com o desejo de dar à criatura a sua imagem e semelhança... “Pra que time você torce?”... “Não sei!”... “Que bom!”. Poderia assim Cristiano forma-lhe da arte da bola, ciência que dominava como poucos, e que, por um acaso, não herdou do pai, mas de outros homens que admirava.

Você já deve deduzir que lhe ensinaria a amar e torcer pelo time que trazia no coração. Não. Quer dizer... Sim, mas também ensinou o guri a gostar do time da pequena cidade. “Qual deles?” É difícil a pergunta. Cristiano acompanhava todos os times da pequena cidade, pela paixão ao futebol e também pelo oportuno de ter jogado com muitos daqueles que, hoje, faziam das peladas o ganha pão. O União era um time que Cristiano havia torcido durante muito tempo. “Glorioso”, como era conhecido, não trouxe muitas alegrias para o jovem pai. “Acho melhor não...” Então não.

Pensou em outro time: Vila Aurora. Há alguns anos passou a freqüentar as galinhadas do Tigrão da Vila. Avizinhava-lhe um dos atacantes do time, que conhecia do tempo da escola, Zumbi. E Zumbi convidava-o para as galinhadas realizadas no primeiro domingo do mês - sempre muito servida de comida, bebida e algumas moças emancipadas e divertidas. “Filho, vamos ver o Tigrão no estádio!”. Claro, por que não? Conhecia não só o Zumbi, mas vários outros jogadores, devido à festa que logo teve fim, assim que as mulheres dos jogadores começaram a disputar espaço com as moças emancipadas e divertidas. Então...“Vamos ao futebol!”

Compraram pipocas. O Pai uma latinha. O pessoal do lado passava fumando um verdinho, mas o menino descuidava os olhos nos balões. “Comprei arquibancada, cê acha que eu vou na cativa, vou na arquibancada.” Os dois erravam gente a dentro (não tanta gente). Menos que no 1 X 0 que o União meteu no Internacional em 2009. Fazer o que!? Não. Não era contra o União. Tratava-se do Luverdense, atual campeão. “Vamu lá!”.“Não”. Cristiano olhou diferente o amontoado de gente e pensou. E é verdade! Eram sim um mucado bom de gente, numa mistureira danada. “Pai! Perto do Gol!” O pai ficou tão menino quanto o menino, ao ouvir. Foram para perto do gol, o que era uma linha privilegiada por dois motivos: podia assistir a um gol de camarote e estava ao lado dela, a maravilhosa torcida do Tigrão que lotava aquele tanto, pintando com as cores da bandeira o Estádio.

O menino comia a pipoca açucarada e percebia que já havia visto aquilo. O pai procurava se menino no menino, e via um piá sonhador à beira do campo. E via o Neguinho chegando da guarda-mirim no campinho do Cabelo. Via o Ricardo, menino muito bonito, mas pobre de dá dó - riamos da sua geladeira que só tinha uma cebola. Pensou no Cabelo, que podia ter ganhado grana com a coisa. Mas, o Cabelo já levava uma vida na maior, e só pegava gatinha. O que ele quer? Não sei.

Os olhos do guri se arregalaram surpresos com a entrada dos homens em campo. Ovacionado pela musica ele começou a erguer um sorriso compassado, como se soubesse que esta sendo visto. Não, como se soubesse que este sendo descrito. Não! Como se soubesse que esta sendo lido por você. E sorrisse. E o menino encheu seus olhos com os uniformes que lembravam mais operários a soldados. Projetou seu corpo para frente, lento e preciso como um comercial de bombom. Sei lá! O time estava lá e ele estava de-cara com eles. “Vamu tigrão!” Gritou o pai.


Via de perto alguém que lembrava alguém. Mas da onde? O que tinha naquelas pessoas em campo, que lhe era tão familiar. Sim, parece até estranho pensar o que aquela mente de menino pensava: o novo. “Mas, da onde eu vi?”. Aquela gente toda parecia com tanta gente que o guri pensou que podia ser ele a entrar daquele jeito num lugar. E quem sabe, ser ovacionado. Sim! Eu queria ser um daqueles que ali estava e surpreendendo o menino.

A bola rolou, o meia voltou pouco para um lançamento longo. Botando pra correr o Queijim, que.... puts. Quase! O menino viu o pai e apertou as mãos e igual vez. Era nem 5 minutos do primeiro tempo e quase. Nossa!!! “Vou contar na escola!” Quem não contaria? “Os times rezam os hinos”. Antes de entrar cantaram, e logo que acabaram começou a descer do céu uma geada, e a torcida logo em seguida desceu também uma bandeira que cobria toda a galera. Nossa, o menino coberto pela imagem do distintivo do time, parecia um sonho. E gritava junto com toda aquela gente e o seu pai que não sei continha no corpo.

Tinha tudo pra ser um jogão. Os caras vinham jogando igual gente grande. Pena que os times não estão completos. “E a gente tem que decidir, por que depois vai ficar F...”.

Robson Vilalba

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

É, nós sabemos, estávamos sumidos...


O Ex-pressões estava parado, por culpa de...todos nós!

Muitas coisas aconteceram de lá para cá, porém a vontade de continuar nos vem à tona.

Apesar de cada um de nós estarmos pra um lado do Estado o trabalho continua.

Continuamos com nossas militancias, cada qual à sua maneira, mas é aqui o espaço em comum.


O Ex-pressões surge com o intuito de dar voz aos subalternos e oprimidos e essa voz não pode se calar.


Espero que consigamos apresentar aqui nossas experiencias de novos e/ou velhos projetos. O Ex-pressões é um velho projeto que deve ser retomado para demonstrar as novas atuações.


E que assim seja!


Ana Soranso